Cetáceos da costa brasileira são tema de livro inédito de pesquisador da USP
12/12/2025
(Foto: Reprodução) Cetáceos da costa brasileira são tema de livro inédito de pesquisador da USP
Marcos César de Oliveira Santos
O novo livro publicado em língua portuguesa sobre cetáceos explora temáticas tratadas no exterior, com exemplos de baleias e golfinhos da costa brasileira, abordando as espécies mais comuns encontradas nas águas territoriais do país e esclarecendo mitos e verdades sobre esses animais.
O autor da obra, Marcos César de Oliveira Santos, professor e pesquisador do Laboratório de Biologia da Conservação de Mamíferos Aquáticos (LABCMA) do Instituto Oceanográfico (IO) da USP, conta que o exemplar surgiu da necessidade de inserir brasilidade nessa literatura, que reflete culturas diferentes da brasileira por quase sempre ser apresentada em livros escritos em inglês.
O professor destaca ainda que os cetáceos não são abordados no ensino básico, reforçando a importância de um livro que conecte estudantes, professores e gestores ambientais ao conhecimento local sobre essas espécies.
O livro detalha 11 espécies mais comuns na costa brasileira, dentre elas o boto-cinza e a toninha, os golfinhos mais frequentes no país
Marcos César de Oliveira Santos
"Ao disponibilizar informações básicas em português, o livro pode inspirar futuras gerações de cientistas, que, motivadas pelo interesse e pela ciência, naturalmente poderão dominar outras línguas para aprofundar seus estudos no futuro", comenta Marcos.
Conteúdo e informações sobre espécies marinhas
O livro detalha 11 espécies mais comuns na costa brasileira, dentre elas o boto-cinza e a toninha, os golfinhos mais frequentes no país.
A toninha (Pontoporia blainvillei) é pouco conhecida, pequena e arisca em relação à presença humana, ela produz sinais sonoros que permitem determinar sua localização para outros indivíduos e usa o som para capturar sua presa. Está presente do norte da Argentina até o Espírito Santo, no Brasil, principalmente em águas escuras.
A toninha (Pontoporia blainvillei) é pouco conhecida, pequena e arisca em relação à presença humana
Marcos César de Oliveira Santos
O boto-cinza (Sotalia guianensis), por sua vez, possui hábitos únicos em relação a outras populações de cetáceos no mundo: as fêmeas patrulham praias rasas, quase encalhando para fisgar peixes. Apenas fêmeas e filhotes do sexo feminino repetem esse comportamento, caracterizando um caso de transmissão cultural vertical - aprendizado passado de uma geração para outra em uma espécie não humana.
São discutidas as ameaças que os cetáceos enfrentam atualmente, como a poluição química e sonora, atropelamentos por embarcações, capturas acidentais na pesca e mudanças climáticas, fatores que comprometem a sobrevivência desses animais.
A pressão humana sobre o meio marinho e a exploração de recursos naturais intensificam esses impactos.
Boto-cinza (Sotalia guianensis)
Marcos César de Oliveira Santos
Desvendando mitos sobre os cetáceos
A obra também desmistifica inúmeros mitos comuns sobre baleias e golfinhos, como a crença de que a orca é uma baleia, que baleias e golfinhos são peixes, ou que seres humanos poderiam ser engolidos por esses animais.
“O nome ‘baleia assassina’ para as orcas é enganoso: trata-se de um golfinho dentado que caça outros cetáceos, apenas seguindo o instinto de sobrevivência em seu habitat natural. Baleias e golfinhos são mamíferos, respiram oxigênio do ar com pulmões e precisam vir à superfície regularmente, diferentemente dos peixes, que extraem oxigênio da água com brânquias. E, ao contrário de histórias sensacionalistas, não existe a possibilidade de um ser humano adulto passar pela faringe ou pelo esôfago de uma baleia”, explica Marcos.
Desafios
De acordo com o pesquisador, a língua oficial da ciência é o inglês. Os melhores livros sobre cetáceos estão publicados nesse idioma, mas têm preços elevados e ficam fora do alcance de muitos.
Orca (Orcinus orca)
Marcos César de Oliveira Santos
“Espero levar um pouco dos encantos do universo marinho a pessoas que estão distantes dele aqui no Brasil. Esse foi o grande desafio, produzir e compartilhar um livro sem cobrar nada. O foco foi aproveitar a adaptação ao mundo digital e criar ebooks de livre acesso. A sociedade já investiu em minha formação, permitindo que eu cursasse Biologia, fizesse pós-graduação e trabalhasse em uma universidade pública. Agora, estou apenas devolvendo esse investimento na forma de conhecimentos concentrados em livros”, discorre. Leia o e-book aqui.
*Texto sob supervisão de Lizzy Martins
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